#Resenha: Decrépitos - Aqueles que herdaram a Terra, de Fabio Mourajh

By | 24 agosto

Em um futuro aterrador, não seremos mais os elevados.

Não é de hoje que o rumo que a tecnologia toma em nossas vidas nos fazem questionar onde iremos parar. O medo do desconhecido, que vem no advento tecnológico nos faz cogitar cada vez mais possibilidade maravilhosas e aterradoras. Decrépitos - Aqueles que herdaram a terra, obra de estreia do escritor Fábio Mourajh pela editora Chiado é justamente isso, um mergulho vertiginoso no vislumbre de um futuro que pode estar mais próximos de nós do que imaginamos.

O livro, primeiro de uma série, descreve um mundo  onde a humanidade praticamente se auto exterminou e uma nova raça, resultado de um fortuito contato com uma raça alienígena, tem nas mãos o destino desse mundo devastado. Na trama somos apresentados aos aspectos e conflitos vividos entre as duas únicas metrópoles restantes no planeta: ADÃO, lar dos Elevados, seres humanos geneticamente modificados com alto grau de inteligência e habilidades sobre humanas que vão desde super velocidade até controle de elementos; e EVA, lar dor Decrépitos, versões marginalizadas dos Elevados de Adão, criados pelos humanos de Eva em grande escala como objetos fabricados apenas para serem subordinados. Ambos, Elevados e Decrépitos foram criados pelos humanos para ser resistentes a praga chamada Ante Cristo, uma arma biológica produzida pelos homens para uso na ultima grande guerra, e que acabou saindo do controle. O aspecto sócio-cultural envolvendo humanos e Elevados nas duas cidades é muito bem retratado, e de contrates bem interessantes na obra, sendo os Elevados considerados de alto nível pelos humanos comuns e regentes de Adão, enquanto em Eva, seus irmãos Decrépitos são tratados como escravos, servindo e trabalhando nas piores condições, sem respeito ou dignidade.

Mas, vamos analisar isso com mais calma.

A primeira coisa que se nota ao abrir as primeiras páginas é que o autor joga em nossa cara o aspecto violento e visceral que rege a trama em toda primeira parte e fica fácil ver referencias a obras como AKIRA de Katsuhiro Otomo, e isso para meu gosto pessoal foi muito bom. Somos apresentados a Loan, o menino Evan (Quem nasce em Eva) que desperta seus poderes em meio a uma vida de sofrimento e medo. Segue-se então um ritmo meio arrastado, o que é comum, visto que o autor precisa introduzir e desenvolver conceitos da historia. Nisso o Fabio fez a lição de casa, pois sua estória segue bem a grade estrutural, sendo dividida em três partes onde a primeira serve pra apresentar e a segunda pra desenvolver.

E é nessa segunda parte que começamos a mergulhar nos aspetos dessa obra tão interessante.  O autor brinca de quebrar paradigmas quando apresenta uma trama que foge fácil aos moldes que encontramos aos montes nas seção de ficção cientifica das livrarias. O enredo não está focado em narrar nada épico (apesar de acaba fazendo isso mesmo assim), está mais focado em mostrar um futuro e suas possibilidades tangíveis.

E falando em aspectos interessantes. Um dos que mais me chamaram atenção é como o autor apresenta conceitos religiosos misturados a tecnologia. Exemplo: Em Adão, toda a sociedade é pautada em religiosidade. Os elevados, regentes da cidade, acreditam que foram criados à partir de vinda de um anjo na terra, fazendo deles enviados do senhor. Já em Eva, reina o ateísmo e a pervertidão. É muito legal esse paradoxo, de seres criados puramente por engenharia genetia serem os mais fervorosos na religião. E isso não fica forçado, pois ao longo da narrativa, flash backs cuidam de contar direitinho essa historia. No centro do poder de Adão está a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, toda formada por Elevados, denominados templários. Não tem como esse conceito de religiosidade e tecnologia misturados não te fazer lembrar de obras como Star Wars, e sua ordem de Cavaleiros Jedi.

Essa segunda parte de desenvolvimento serve pra isso mesmo, desenvolver: descrever personagens, criar laços, contar detalhes da historia do mundo que os cerca, nada fora do esperado. Até o próprio Loan cresce muito, física e psicologicamente nesse período. Essa é aquela parte do livro que o leitor impaciente larga mão e vai ver TV. Mas, não eu. Eu segui porque sabia que o bicho ia pegar em breve. E eu estava certo.

A terceira parte encarregada da conclusão tem um ritmo mais acelerado. O vilão apresentado é algo totalmente inesperado. Temos ai maior noção das mazelas politicas que também assolam Adão e do real poder dos Elevados que começam a se meter em combates épicos. E falando em combates épicos, meu amigo, tem uma cena no meio da batalha final, que não vou dar spoiler, só vou dizer que se gostou da cena de Moisés abrindo o Mar vermelho na Record, não perde por esperar. Eu particularmente achei o desfecho um pouco desanimado, mas eu nem cheguei a me importar muito com isso, estava mais preocupado em ver o final dos meus personagens preferidos. Pois é, se por um lado o final não foi tudo que eu esperava, o modo como o autor desenvolve seus personagens, lhes dá camadas e os entrelaçam em relações mutuas me agradou e muito. Fica até difícil escolher um personagem pra se apagar. A estória gira em maior parte em torno de Loan, mas eu estaria sendo injusto se dissesse que ele é o único protagonista. Pra mim o protagonista é o mundo onde tudo se passa.

Pra finalizar, gostaria de fazer uma pequena nota aos diálogos, em algumas vezes arrastados, mas na esmagadora maioria bem desenvolvidos e palpáveis. Negativamente apenas achei que faltou uma visão maior dos humanos nessa trama, visto que ele mal aparecem como coadjuvantes e uma atuação maior de Roll (quem leu sabe), um decrépito que teria dado um ótimo vilão, ou ante herói nesse primeiro livro. Mas, no geral, Decrépitos é um livro excelente, uma ficção original e imersiva que bebe fortemente de fontes da cultura pop, daquelas que te deixa uns bons minutos depois da palavra FIM, pensando: "E se acontecesse isso mesmo?".



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DECRÉPITOS - AQUELES QUE HERDARAM A TERRA
Autor: Fabio Mourajh
Origem: NACIONAL
Editora: CHIADO BRASIL
Coleção: VIAGENS NA FICÇÃO
Idioma: PORTUGUÊS
Edição: 1
Ano: 2016
País de Produção: BRASIL
Código de Barras: 9789895167951 ISBN: 9895167954
Encadernação: BROCHURA
Complemento: NENHUM
Nº de Páginas: 474
Onde comprar: Site d editora Chiado e Livraria Cultura



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